segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Uppsala: a catedral, a universidade e o castelo

A catedral de Uppsala


Tal como tinha planeado, fui num fim-de-semana a Uppsala, antiga sede do arcebispado e cidade com a universidade mais antiga da Suécia. Tive como simpática companhia, Nathalie - uma colega francesa, que trabalha numa escola em Södertalje a poucos kms de Estocolmo, através do mesmo programa Coménius. Nathalie é bisneta de sueco da parte do pai e filha de mãe espanhola - veio à Suécia um pouco para conhecer a terra dos seus antepassados.

O primeiro ponto de encontro para a viagem foi na estação de combóios em Estocolmo. Daí apanhámos o combóio que em poucos minutos - cerca de meia hora - nos levou a Uppsala. Esta cidade é a quarta maior do país com cerca de 180 000 habitantes. Achámos, no entanto a cidade um pouco vazia ao fim-de-semana.

Uppsala foi, em tempos, famosa pela formação de cientistas como Carl von Linné - um botânico e médico, que se tornou símbolo da cidade. Em todos os cantos da cidade, vemos vitrines com livros dedicados a este senhor. Este ano celebram-se os 300 anos do seu nascimento. Outro cientista famoso "criado" em Uppsala foi Anders Celsius.

A primeira visita que fizémos foi à catedral da cidade. A maior da Suécia. Este é um dos monumentos que domina Uppsala, com as suas duas enormes torres. Gostei imenso do seu interior. Apesar de ser um edifício imponente, com as abóbodas de estilo gótico, tem uma luz e uma beleza bastante simples, sem aquela decoração exagerada a que estamos habituados em ver nas nossas igrejas. Para "colorir" ainda mais o clima deste monumento, encontrámos um coro, de vozes afinadinhas a ensaiar. A acústica é muito boa.

um dos vitrais da catedral















Na catedral estão sepultados os reis Gustav Vasa, Johan III e, claro está, Carl Von Linné. Encontram-se igualmente os restos mortais de St Erik, o santo padroeiro da Suécia. túmulo do casal monárquico Vasa

Estando eu entretida a tirar fotografias, tive a preocupação de desviar a máquina para não "apanhar" uma senhora que estava para ali parada, pensando eu, à espera de alguém. A minha companheira francesa é que me chamou atenção e avisou-me de que aquela senhora não era uma visitante qualquer, mas sim uma estátua em cera. A obra de arte tem como título "Mary (the return)" de Anders Widoff e não é nada mais do que o "regresso" de Maria, mãe de Jesus, depois de uma longa ausência na catedral. O seu "desaparecimento" aconteceu, precisamente, em 1702 quando a cidade e a própria catedral, foram vítimas de um grande icêndio. A capela, onde a santa morava ficou parcialmente destruída. Depois, veio a Reforma que proibiu qualquer representação de Maria, em estátua.


Mary (the return)

Em 2005, surge, então esta figura estática, como uma visitante, de costas para o altar, olhando para o local que foi outrora "seu" e é agora a capela Vasa.


Depois da visita à catedral, decidimos passear pela cidade. Encontrámos o edifício antigo da universidade ou a Universiethuset, estilo neo-renascentista. Vimos também o Gustavian, que também faz parte da universidade e que se destaca pela sua abóboda invulgar. Este museu conta a história da universidade e foi local antes para o estudo de atonomia e autópsias assistidas pelos alunos de medicina. Infelizmente, não chegámos a entrar lá dentro, mas fomos visitar a biblioteca onde se encontra uma exposição sobre escrita, alguns objectos que pertencem a Linné, a bíblia de prata, do século VI, vários mapas antigos que representam a Suécia em tempos idos.

De muita caminhada que fizémos, uma coisa é certa: não confiar de todo em mapas dos guias que temos. Demos uma volta enorme à procura do castelo de Uppsala sem necessidade nenhuma, pois ficava no mesmo caminho que a catedral e a universidade, mas mais acima. E nós ceguinhas não reparámos no edifício consideravelmente grande e cor-de-rosa. A culpa foi do mapa, tá!!

Antes de irmos ao castelo, fomos comer qualquer coisa barata. Optámos por um café acolhedor, onde serviam saladas com massa de todo o tipo. Já refeitas e com as energias renovadas, fomos então subir uma rua inclinada que nos levou ao dito castelo, que abriga o museu de arte e é a actual residência do governador. O castelo foi construído primeiro como fortaleza, em 1549 e, após o grande icêndio de 1702, que destruiu parte da cidade, foi totalmente destruído, tendo sido restaurado mais tarde.

Não fomos tomar um chá com o governador, que não estava em casa, mas fomos visitar o museu. Atenção: se ainda pensam que na Suécia encontram museus gratuítos, tudo mudou agora com o novo governo. As entradas dos museus são agora pagas. :(

O museu é pequeno e a sua área divide-se entre arte mais clássica (séc XVIII) e arte moderna - com pinturas e cerâmicas.

Fora do castelo, podemos contemplar uma vista da cidade e do alto de um miradouro. Para lá chegar, foi uma tarefa algo complicada. Não pela subida em si, mas pela quantidade de gelo que havia no chão. Patinámos imenso, mas sem quedas ou ferimentos. Pela cidade era o mesmo, com locais bem propícios para quedas. Eu como já andava traumatizada e a minha amiga como andava com um problema no joelho, éramos duas turistas medrosas, a andar muito devagarinho com medo de cair. Ficámos admiradas como os suecos andam de ténis "all star" ou as suecas com sapatos de sato alto, sem preocupação e sem nenhum espalho.
ai ai ai ai

3 comentários:

Anónimo disse...

Uppsala deve ser uma cidade fascinante e que deve valer bem a pena visitar. Parte do repertório que cantamos no coro da nova (o famigerado ríu, ríu, chíu, por exemplo) provém de um manuscrito muito importante para a música antiga ibérica, que se encontra em Upssala, conhecido como o cancioneiro de Upssala (http://www.goldbergweb.com/en/magazine/essays/2004/06/24812.php).
Linné é mais conhecido entre nós como Lineu, e é um dos pais da taxonomia (sistema de classificação dos seres vivos). Foi ele que criou as designações em latim para imensas espécies animais e vegetais (sempre duas palavras, escritas em itálico, a primeiro em letra maiúscula, que designa o género, e a segunda em minúscula, o epíteto específico. Por exemplo, Canis lupus). A primeira pessoa a descrever taxonomicamente uma espécie além de lhe poder dar o nome fica também com o seu próprio nome associado à espécie, porque passa a escrever-se as suas iniciais, entre parênteses, a seguir ao nome da espécie: Canis lups (Lin., 1758), com o ano da sua primeira descrição.
Chega, espero que tenha sido mais divertido que a minha dissertação sobre Lineu :)

Anónimo disse...

ah, e achei deveras interessante a obra de arte moderna numa catedral com tanta história!
Pois é, o barroco com as suas talhas douradas não colheu muitos impatizantes no norte da Europa. Mas a catedral também é gótica, não é? é suposto ser mais despojada, embora deva ter muito trabalho nas suas pedras. e vitrais, dos quais eu gosto tanto.

Unknown disse...

Obrigada pela explicação científica, Cátia. Já nem me lembrava da classificação dos seres vivos que tanto estudei nas aulas de Ciências. :)

E sim, a catedral é mesmo muito bonita, de estilo gótico, sem as talhas douradas. Tinha bastantes esculturas em pedra, nomeadamente nos túmulos dos reis, e os vitrais eram lindíssimos. se quiseres envio-te mais fotos. :)