quarta-feira, janeiro 31, 2007

Em ST Eskil Gymnasiet



Na semana passada, fui "emprestada" a uma outra escola secundária na cidade. Assim como os jogadores de futebol são emprestados para uma temporada. Assim fui eu durante uma semana, trabalhar em St: Eskil, uma escola bem situada no centro da cidade. A escola é composta por vários edifícios que, curiosamente, estão separados e não localizados no mesmo espaço. Ou seja, Quando eu ia para a cantina, por exemplo, tinha que atravessar o outro lado da rua, onde estão situados igualmente os departamentos de música e das artes.

A entrada principal da escola





















Apesar da remodelação, a escola não deixou de ter o aspecto austero, fazendo-me lembrar as antigas escolas do centro de Lisboa, construídas no tempo de Salazar, com os seus corredores estreitos e mobiliário escuro.

Gostei bastante da sala de pessoal da escola onde se respirava história, com estantes de livros antigos e retratos dos ex-reitores de St: Eskil.
Mas, uma sala, tão iluminada e convidativa não parecia atrair os professores que iam buscar o seu cafézinho e refugiarem-se no seu espaço. Esta foi uma das diferenças que encontrei nesta escola. Não senti aquele verdadeiro clima de convívio, à hora de Fika, como encontro em Rekarne.

Em St: Eskil, os alunos fazem as suas actividades na sala de aula. A escola tem também restrições no uso dos computadores, mas têm como objectivo de haver no próximo ano um computador por aluno, em algumas turmas.

St: Eskil não parece ser tão inovadora como Rekarne, primeiro porque o próprio espaço não ajuda e porque muitos professores preferem trabalhar sozinhos do que em equipa. Mas há excepções. E essa excepção está num pequeno grupo de professoras de Inglês como Inkeri Böök, a minha mentora por uma semana.

Alta, magra, de ar aristocrático e bastante segura, Inkeri apresentou-se perante a minha pessoa, decidida em "raptar-me" por uma semana, já com horário definido e tudo. Não consegui dizer que não, até porque não a conhecendo, aquela presença intimidou-me um bocado, mas ao mesmo tempo tinha imensa curiosidade em conhecê-la, principalmente o seu método de trabalho.

Numa manhã nevosa e de chão escorregadio, fui visitar uma aula de turismo, em que os alunos já faziam planos para os turistas "virtuais" (uma família, um grupo do País de Gales, um grupo de idosos...) e durante a sua ocupação, Inkeri falou-me do seu método de ensino. Primeiro de tudo, disse-me que não acreditava em manuais escolares, que obrigam os alunos a obedecer instruções, sem ter liberdade de escolha. O que costuma fazer é, no início do ano lectivo, entregar uma lista a cada aluno, de várias actividades: um determinado número de artigos de revistas diversas para ler, um número de exercíos de escrita, de "listening", várias conversas ou apresentações orais para a professora, etc.. A gramática é aprendida através de testes diagnósticos, em que o aluno se auto-corrige e aprende os seus erros. Por vezes, quando necessário a professora dá uma explicação, mas na maior parte das vezes, esta quase que se torna invisível na sala de aula. Este plano é todo ele feito ao longo do ano. Cabe ao aluno a responsabilidade de escolher as suas actividades.

Mas, perguntam vós, oh mentes curiosas, como é que a professora avalia e controla essa confusão de actividades numa turma? Atão não se corre o risco dos alunos, ao longo do ano, não fazerem nenhum?

Ora bem. Para além de todas estas actividades, no final de cada aula, o aluno tem que escrever num caderninho "log book" o que pretende fazer ou o que acha que deverá ser feito. A professora rubrica o texto que escreveu. Para além disso, o aluno marca sempre um encontro com a professora para explicar o trabalho que tem sido feito. Os mais preguiçosos acabam sempre por se aperceber que têm de trabalhar, pois são confrontados com a professora (lembram-se que o ar aristrocático da senhora também ajuda) sobre o motivo do seu desleixo. Por isso, existe um controlo, um plano bem estruturado por detrás deste trabalho. Mas não funcionaria numa escola em Portugal. Não há liberdade em se ser inovador. Não existem materiais suficientes e numa altura em que o professor é condenado na "guilhotina" como o responsável pela má aprendizagem de um aluno, este método inovador não seria compreendido e a condenação à morte seria inevitável. :(

segunda-feira, janeiro 29, 2007

A neve já chegou!!

Finalmente, há uma semana atrás, Eskilstuna vestiu-se de branco:


A igreja mais antiga da cidade: Fors Kyrka

















A parte mais antiga de Eskilstuna, no outro lado do rio.












As árvores despidas e pintadas de branco



Sol!!













A preto e branco...

sexta-feira, janeiro 19, 2007

Mais uma semana a voar

É verdade. O tempo tem asinhas agitadas. Já passou uma semana e o fim-de-semana aparece vestido de branco. Mais uns dias de neve provisórios, pois o tempo não está assim muito frio. Mas é bonito de ver o caminho de casa para a escola todo de branco. Até tive dificuldade de ver a passadeira... Vou ver se consigo tirar umas fotos antes que a neve se derreta.

A próxima semana vai ser de muitas novidades. Por uma semana vou assistir aulas e ver como as coisas funcionam numa escola secundária diferente: St Eskils. A escola é bastante grande e muito mais antiga que Rekarne. A minha "mentora" vai ser Inveri Böök - pelo que ouvi dizer de outros professores, é uma professora com uma visão perante o ensino bastante futurista e diferente. Estou cheia de curiosidade...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Finalmente!

Sim, finalmente! *pulos de alegria!* consegui encontrar um curso de sueco! Vai ser numa escola de línguas. Sim, se fosse esperar pela instituição responsável pelos imigrantes, bem que esperaria sentada...
O meu problema foi mesmo falta de informação acerca de possíveis cursos de língua sueca na cidade. O único que a minha orientadora tinha conhecimento era o dessa organização que oferece o curso para imigrantes e refugiados. Mas como não sou nem uma coisa, nem outra colocaram-me em lista de espera, dando prioridade primeiro aos refugiados (bolas, será que não se podia provocar uma guerra em Portugal? ¨) e depois imigrantes e depois aqueles que não são nem uma coisa, nem outra. Assim como eu. Pronto e cá estava eu à espera, a olhar para uns livros do tempo da maria cachucha em que os homens eram todos "bilmecanichers" e as senhoras "hemmafrus". Depois fez-se luz dentro da minha mente. Uma luz que deveria ter aparecido mais cedo... "Atão" se em Portugal há escolas de língua em que o Português é ensinado como língua estrangeira, não há também aqui?" E esta pergunta foi direccionada à minha orientadora que prontificou-se a telefonar a todas as escolas de língua da cidade (são apenas 4) e tcharam! Foi encontrado o curso em apenas uma! E já vou começar na próxima segunda!! *mais pulinhos*

É que realmente andava um pouco decepcionada com o facto de estar já há algum tempo neste país e não saber quase nada da língua.

Conquistar o público

Ontem fui a uma conferência em Eskilstuna, sobre programas comunitários nas escolas, ao qual tive que participar. Uma participação de manhã e outra de tarde. Sim, euzinha a falar em público à frente de um grupo de 60 pessoas- primeiro reitores de várias escolas e, depois, professores também de várias escolas. O que vale é que falei por apenas 5m. É o efeito de nervosismo perante uma audiência que olha para mim. Começo a falar a uma velocidade vertiginosa para passar depressa e deixar de ser o centro das atenções.

Mas já começo a conhecer o truque para combater este nervosismo e gaguez atrapalhada. Simplesmente olhar para caras sorridentes para sentir-me mais confiante e dizer de vez em quando umas piadas. E riram-se! Acho que teria sucesso como comediante de "stand up" ou coisa assim parecida. Vou institucionalizar um "Levanta-te e ri" na Suécia.

Acontece que, tirando as piadas, o objectivo do meu curto discurso improvisado, foi falar um pouco sobre a minha experiência enquanto assistente de língua. Como tive conhecimento, qual foi o meu interesse em participar, como é o meu trabalho.

Resultado disto tudo. Fui convidada, mais a minha orientadora, a participar numa outra conferência em Estocolmo perante uma audiência de 700 pessoas com um apresentador de TV famoso incluído na apresentação. Ora Toma! :=O

Vinde, crianças que ressonam!

Na terça feira, na minha aula de Português uma aluna minha que estava de "baby sitter" de serviço, pediu-me para que uma menina de dois anos assistisse à aula. Claro que disse que não haveria problemas, desde que não fizesse muito barulho. Ficou entretida a comer um gelado e a fazer rabiscos num papel. Até era bastante sossegada, muito melhor comportada que certos alunos que por aí abundam.

Quando já andava a meio da correcção de um exercício de repente, escutei um barulho estranho de respiração ensurdecedor. Olhei e vi a menina embrulhada, e confortável no colo de duas alunas a ressonar com o ar mais pacífico deste mundo. O que gerou de imediato risotas da minha parte e das alunas. OK aqui está o efeito das minhas aulas. Adormeço até criancinhas com a minha estratégia de ensino de Português. :)

quinta-feira, janeiro 11, 2007

O drama de dois bolos rei



Dois bolos rei, redondinhos e coloridos foram retirados da sua pastelaria mãe de forma brutal e dramática e enfiados em caixas vermelhas a desejar um feliz Natal. Estes dois bolos tiveram durante 3 dias uma vida efémera de terror e maus tratos, acabando as suas tenras vidas em migalhas num país de língua estranha.

No dia após o seu rapto, os dois bolos monarcas foram separados. Triste destino para estes dois irmãos que foram novamente entalados em espaços pequenos. Um deles foi enfiado num saco natalício e teve como companhia irritante, uma caixa de broinhas castelar de vozes agudas e assopranadas. O segundo ficou entalado entre uns livros e roupa interior, numa mala preta e cinzenta de duas rodas que andou mais de 15 minutos aos tropeções. Tiveram num sítio desconhecido, de odor a gasolina, que lhe provocaram náuseas e mau estar no meio de tanto solavanco, de altas altitudes.

Depois de um dia para esquecer os dois bolos, saíram inteiros e ainda redondinhos e coloridos, conseguiram respirar em paz por mais um dia.

Às dez horas da manhã de uma segunda-feira os dois bolos foram colocados em exposição perante olhares curiosos que pronunciavam "Fika" de forma religiosa. Às 10h00 o primeiro bolo foi mutilado, sem dó e nem piedade. Às 10h15 já estava a menos de metade. Teve o seu destino fatal em migalhas às 11h00.

Segunda "Fika", segundo bolo reduzido em milgalhas. Em apenas uma hora o segundo monarca só estava reduzido em uma fatia, mas foi um regalo aos estômagos do pessoal sueco que nunca saboreou coisa igual. Dos dois monarcas só restaram na memória uma fava e dois bezerros de brinde.

E este relato, estilo notícias da TVI , conclui que... se fosse a fazer negócio de bolo rei nesta terra, estaria milionária!

E pronto cheguei

É um pouco estranho, mas cheguei. Tenho aquela sensação de que Suécia e Portugal quase que são a mesma coisa, tirando o facto de um ser um país mais civilizado que outro. Digo isto apenas porque o tempo para mim tem sido tão rápido que quase não consigo estranhar a distância que separa estes dois países. Quando cheguei a casa no meu país, olhei à minha volta e tudo parecia na mesma. Os meus pais rabugentos, na mesma, a minha gata, na mesma com os seus ataques felinos ora de boa ou ora de má disposição, os meus vizinhos, idem, idem, aspas, aspas. Nada mudou. "Ora cá estou! Até parece que fui passar um fim-de-semana à Suécia e já estou de volta!" E terminadas as férias cá estou eu, novamente, para entrar na rotina diária da escola. Mas é que o facto de ter mudado de Lisboa para Eskilstuna ou de Eskilstuna para Lisboa, não alterou nada na minha vida. É como se eu fosse de uma santa terrinha algures perdida em Trás-Os-Montes e passasse por lá o Natal e voltasse de novo a Lisboa.Talvez seja o facto das novas tecnologias fazerem em mim menos saudosa. Com a Internet e o telefone, posso sempre matar as saudades dos meus amigos e da minha família. Por isso mesmo nem sequer senti a fase árdua de período de adaptação a um novo país e a uma nova língua. Quanto à última, tem sido uma desgraça. A pior procura do que um coro por estas terras. Não consigo encontrar um curso. Estou numa lista interminável à espera que me dêem uma vaga. Tudo isto porque não sou considerada imigrante por estas bandas. Enfim... sou péssima para conseguir estudar sózinha e os livros que tenho são do tempo em que eu ainda usava fraldas, com uma linguagem já muito antiquada...Sem um curso de outra forma não consigo aprender a língua.Mas pronto, cá estou então para relatar o possível desta minha estada.