segunda-feira, abril 30, 2007

Na Noruega - Arendal

Como prometido, aqui começo a relatar os meus dias passados na Noruega. Fui com um pequeno grupo de alunos de Rekarne e mais três professores. Éramos cerca de 26 pessoas enlatadas no autocarro. A viagem foi muito cansativa - demorámos cerca de 12 horas de Eskilstuna a Arendal com algumas paragens a meio. Primeiro contacto com o mar foi numa pequena cidade, chamada Larvik. Aí encontrámos um grupo de estudantes que celebravam o fim da escola secundária, vestidos de fato macaco vermelho, com anúncios e bandeiras estampados, e munidos de "espingardas" aquáticas. Foram logo atacar o grupo de alunos suecos. Uma das alunas foi a maior vítima. Esses alunos finalistas têm a designação de Russ. Mas sobre essa tradição falarei mais tarde..



uma rua em Larvik

Chegámos a Arendal e fomos imediatamente convidados pela professora Liv, que já tinha conhecido quando cheguei à Suécia. Ela ofereceu-nos um belo jantar - uma sopa de peixe fresco, que soube mesmo bem.

Depois, dirigimo-nos às "nossas casas". Fiquei eu e o professor Christer na casa da professora Hanna. Só a conheci no dia depois, pois teve o azar de perder o avião que vinha de Espanha. Recebeu-nos, no entanto, o marido, um arquitecto apaixonado por aguarelas e a gata que encheu o meu casaco cheio de pêlos. O sr arquitecto ficou muito contente por me conhecer, pois vai neste próximo mês a Portugal com a mulher.P erguntou-me logo por cidades e vilas a sul do meu país, para poder retratá-las nas suas aguarelas.


Depois de uma conversa breve, fui então para a cama e para o merecido descanso. Dormi no sotão, com vista para o mar. :)

O segundo dia foi dedicado a uma caminhada difícil e escorregadia, em direcção a uma belíssima queda de água, num local chamado Rjukanfossen. O percurso foi um tanto complicado, até porque sou um pouco medricas quanto a subidas, mas passo a passo e com bastante cuidado, consegui chegar ao topo. Claro que fui uma das últimas a chegar. É no que dá a falta de exercício! Mas valeu a pena. O rio que percorre aquela zona é ainda fresco e a sua água seguramente potável e saborosa. Pena a paisagem ter sido um pouco cinzenta e invernosa e pena o autocarro não nos ter ido buscar ao cimo. Tive que aguentar mais uma hora de descida, cheia de receios, pelo piso escorregadio. Mas tive sorte - só adequiri uma nódoa negra, e os pés molhados. Valeu a generosidade um professor de EF, dinamarquês, que me emprestou umas meias e uns sapatos sequinhos. ;)



O final do dia foi preenchido por uma pequena "soiré" de apresentações sobre a Suécia feita pelos alunos. Coube-me uma apresentação sobre Portugal com uma alteração súbita dos meus planos. Como vi que a grande maioria da audiência era de alunos, já fatigados e pouco interessados em longos discursos, decidi optar pelo plano B - o mega concurso sobre Portugal. As equipas foram apenas duas - Noruega e Suécia e ganhou a terra do bacalhau. Total surpresa minha, pois a grande maioria dos alunos suecos já tinham ouvido as perguntas, antes, na Suécia. Têm memória curta estes rapazes!

Terceiro dia - este dia foi um tanto aborrecido para mim. Os alunos noruegueses e suecos participaram num projecto, em pequenos grupos, em que tinham que fazer comparações entre a língua sueca e norueguesa. Enquanto isso, fui passear pela pequena cidade. Pena o nevoeiro ter sido ainda tão denso, dando uma cor ainda muito sombria e cinzenta.

A minha primeira visita foi à igreja. Restaurada há pouco tempo, a igreja tem no seu edifício, em baixo, algo muito curioso. Uma loja de "fast food". Sim, verdade! Tudo porque o seu restauro foi tão dispendioso que a igreja ficou dependente de qualquer ajuda financeira. Ah pois, meus irmãos... Em vez de se distribuir a hóstia durante a missa, distribuiem-se hambúrgueres e batatas fritas!! Nem mais! Pronto, exagerei... essa parte não é verdade...mas olha que seria uma boa ideia de marketing para as igrejas conseguirem mais ovelhinhas no seu rebanho...
O interior da igreja é bastante simples e tem a particularidade de ter um navio em miniatura pendurado no tecto. Esta característica é muito comum nas igrejas do sul da Noruega, como amuleto da sorte deixado por pescadores ou mulheres de marinheiros, para dar protecção contra a ameaça do mar bravio.





Depois, como a fome já apertava, fui ao centro comercial para comprar uma sandes e um sumo. Como as coisas por lá são muito mais caras (até os suecos se queixam) não fiz compras quase nenhumas na Noruega. Enquanto estava eu numa loja de roupa o alarme de repende soou. Não - eu não andava na roubalheira. Era um alarme, que soava em todo o centro comercial. As pessoas calmamente caminharam para a saída. Sem perceber muito o que se passava decidi seguir a multidão. Ouviu-se, depois, uma voz provavelmente a dizer que tinha sido falso alarme. As pessoas voltaram para dentro do centro reagindo com sorrisos e exclamações animadas. Eu começo a pensar que os alarmes me perseguem...





De tarde, fomos todos visitar um museu, onde se encontram os restos de um navio negreiro dinamarquês, encontrado na costa de Arendal. O museu conta a sua história. Primeiro fomos assistir um filme documentário, felizmente, em inglês sobre a história da escravatura e das condições desumanas em qie os escravos eram transportados. Vimos também o que ainda existe de escravatura nos nossos tempos e em que a maioria das vítimas são, principalmente, crianças.
Depois fizémos a visita ao museu em que uma guia explicou toda a história do seu navio. O diário de bordo, curiosamente foi salvo e bem preservado e conta-nos com precisão a vida árdua dos marinheiros e principalmente dos escravos. Infelizmente, não percebi o que a guia nos dizia e, por isso, entreti-me a ver a exposição e a ler a informação escrita em inglês.
Depois da visita ao museu, e como o tempo estava bastante agradável, fomos beber um chá num café,bastante alternativo, onde se podia ouvir jazz e se vendiam cds de música de todo o mundo, inclusivé o nosso fado. Claro que fiquei toda orgulhosa e como a empregada viu que eu era portuguesa colocou um cd da Maria João e Mário Laginha - Undercovers- e informou-me que iriam actuar em Arendal no próximo mês de Agosto. :)

Quarto dia- Finalmente, o dia tornou-se cheio de sol. Dia perfeito para um passeio de barco até uma ilha turística e idílica chamada Medøgaard. Passámos a manhã a tostar um pouco a pele (neste aspecto estou a tornar-me bastante escandinava, no que diz respeito à adoração ao sol! Como agora os entendo!). Primeiro démos uma volta à ilha e depois, os alunos participaram num jogo de futebol. Desta vez a vitória coube aos visitantes por 5-2. O jogo não foi muito renhido e o grande momento de emoção foi quando a bola foi encalhar num ramo de uma árvore. Foi a coragem de uma rapariga norueguesa, excelente trepadora que fez com que o jogo continuasse.



Onde está a bola?

mais fotos da ilha Merdøgaard:




quinta-feira, abril 26, 2007

ausente ao pé do mar...

Estou, durante esta semana, numa vila pequena e idílica bem no sul da Noruega. A vila chama-se Arendal. O tempo tem andado um pouco chuvoso e cinzento, mas não deixa de ser bonita a paisagem. Finalmente matei saudades do peixe fresco (incluindo bacalhau). nham nham... :) Para a semana terei certamente mais tempo para escrever as minhas crónicas. :)

terça-feira, abril 17, 2007

Eu

Não gosto muito de colocar a minha bela fronha em público, mas a pedido de vossas senhorias que me queriam ver bem alimentada e cuidada à base de almôndegas suecas e puré de batata, coloco-a para comprovar que não estou mais magra (infelizmente) nem amarelinha.

Aqui estou: Eu e Eskilstuna, num dia bonito, cheio de sol. Agradeço, desde já à autora desta foto que me apanhou descabelada numa tarde bonita, mas ventosa. :)



quinta-feira, abril 12, 2007

Um concerto

Ontem tive a oportunidade de ver um concerto na escola de música que fica muito perto da minha casa. Fui convidada pela professora Eva, cuja filha iria participar no espectáculo. Os alunos eram os mesmos que fizeram o espectáculo de dança dos "piratas das Caraíbas" - lembram-se do concerto de Sta Lucia que fui ver em Dezembro? Pois bem, a companhia foi a mesma, mais a famelga toda para dar apoio a uma das estrelas. E foi realmente um verdadeiro espectáculo. O tema era a "máquina do tempo" e um cientista saltitava de época, para época, na sua estranha máquina cheia de luzes. Começou pelo século XVIII, e um grupo de raparigas a tocar violino e violoncelo, depois para os anos ´70 do século XX, e a máquina foi saltando de heavy meatal (com um puto literalmente aos berros e a dançar tal e qual como o Mick Jagger), jazz, blues, rock, disco, e rock dos anos 80(com o Mozart acidentalmente a ir parar à escola de dança da Fame).
O espectáculo também oferecia dança e teatro. Nesse campo já eram um pouco mais tremidos, mas no que diz repeito a música eram bem seguros e mesmo muito bons. Fiquei literalmente de boca aberta com um dos miúdos, que deveria ter cerca de 14 anos e que não mediria mais do que 1,60, a tocar guitarra eléctrica já como um verdadeiro profissional e já a dar verdadeiros solos "rockeiros" de arrepiar qualquer um. Brilhante! E, depois, vimo-lo a saltar para a orquestra e tocar também violino e baixo. Mil vezes brilhante! Disseram-me que aquela pequena estrela, é dos que mais tem ensaios por dia, durante a semana. E viu-se bem o resultado.

Tive agora a comentar com uma outra professora, cujo filho participou no espectáculo (o pequeno Mick Jagger) e disse-me que aquela escola é pública e, por isso, os alunos aprendem música gratuitamente. O único requisito de entrada é realmente terem queda para a música e já serem especialistas em algum instrumento. Funciona como uma escola normal, mas os alunos têm mais horas de tempo de escola, ocupados nos ensaios.

nona queixa à academia sueca

9. Tinha que adicionar mais esta na lista. Como se dizem as horas. Pois bem. Por exemplo: são 2h30. Um tuga olha para as horas e diz: são duas e meia; um inglês: half past two, ora um sueco diz "halv tre" (metade de três). Quando são duas e vinte cinco o sueco vira o pulso, olha para o seu relógio e diz: "fem i halv tre" (cinco para a metade de três); 2h35 :"fem över halv tre" (cinco depois da metade de três). Ou seja, isto de dizer as horas em sueco requer um exercício matemático muito complicado. E, por vezes, quando querem dizer as horas em inglês complicam-se todos. Dizem "half past three" quando querem dizer "half past two" e combinar qualquer coisa com eles torna-se complicado.

quarta-feira, abril 11, 2007

Tradições da Páscoa



... graças às minhas perguntas incansáveis que deixam os suecos a pensar muito, descobri que as tradições da Páscoa são uma espécie de copy-paste do Natal - se não temos as luzes nas janelas, temos penas coloridas e ovos pintados de várias cores. A comida é igual à do natal: almôndegas, batatas, "johnson Temptation" (uma espécie de bacalhau à brás com carne), arenque e para beber uma espécie de xarope para a tosse, igual ao que se bebe também no Natal. A única diferença é que adicionam o borrego na iguaria.

Pois bem. O que acontece é que os suecos estão cada vez mais distantes das tradições religiosas. A Páscoa é apenas uma oportunidade para estar com a família ou ir passar férias na neve antes que ela totalmente se derreta.
O único elemento que achei piada desta época é o facto das crianças participarem activamente na festa, vestidas de bruxinhas coloridas, na quinta-feira.. Fazem uma espécie de halloween, em que as "bruxinhas" vão de porta em porta pedir doces e postais dedicados à época. Também têm o costume de decorar ovos.

terça-feira, abril 10, 2007

Carta de protesto contra a língua sueca:

Caros senhores da academia de letras sueca,
Chamo-me Isabel, sou portuguesa e estou neste momento, a estudar a língua sueca. Como tenho tido algumas dificuldades na sua aprendizagem, venho por este meio, sugerir algumas alterações para que me seja mais fácil aprender:

1. Escrever de forma como se diz. Se se escreve “mig” e “dig”, por que se diz “mej” e “dej”?, por que se diz “dom” (eles) e se escreve “de”? Se se acabam por não ler metade das letras que escrevem por que não simplificar mais a escrita e escrever tal e qual como se diz?

2. 80% dos substantivos são “-en” ( en stol – uma cadeira) e 20% são apenas “ett” (ett hus – uma casa). Saber quais são “ett” é como jogar no totoloto pois não existem regras específicas. Então por que não passar todas as palavras a “en”. Não seria muito mais fácil? E depois ainda tenho que pensar em colocar o artigo depois do nome quando quero defení-lo. De loucos! Ett hus (uma casa) Huset ( a casa).

3. Regra geral, no plural, em Português ou em Inglês é acrescentar o “-s”. Por que raio foram inventar tantas declinações para o plural? Não seria muito mais fácil se todas acabassem por uma letra quando fosse formado o plural? Primeiro que meta tudo na cabeça é um caso sério.

4. Não alterem a conjugação dos verbos que é a única coisa fácil que eu encontro.

5. Tornem a pronúncia das vogais mais fácil, por favor. Para que raio foram inventar tantas ainda por cima este “å” que tem o som parecido com o nosso “o”, mas não é bem. Está ali no meio.

6. Desculpem-me lá, mas por que raio tenho eu de escrever Kell com K se leio “ch”!

7. Por razões de segurança deveriam alterar a designação de enfermeira (sjuksköterska) para um nome mais fácil. Suponhamos que alguém precisa de a chamar numa urgência e tenha problemas asmáticos, Acaba por morrer antes de acabar de dizer o nome todo. Um pouco perigoso, não? E depois esse Sj tem um som que não consigo de maneira nenhuma comparar com outro som reconhecível na língua inglesa ou portuguesa. E depois ainda se queixam dos nossos sons nasais.

8. Em relação a vocabulário por que chamam às batatas fritas “pommes frites”? Tem alguma coisa a haver com o facto de terem nomeado um general de Napoleão rei, pois tinham falta de sucessores? Foi ele que introduziu a moda das batatas fritas? É que realmente se em todas as línguas existe uma tradução para essa iguaria, por que foram buscar ao francês?

9. mais queixas, em breve....

Fotos eleitas

E das fotos que andei a tirar nestas férias aqui ficam as minhas favoritas. São todas elas de esculturas – e as cidades suecas, por mais pequenas que sejam presam muito esta arte e vemos sempre uma em cada canto. Bonito, não é?




fotos tiradas no jardim do príncipe Eugen
Örebro

Örebro





Sábado foi dia de mudar de ares para Örebro, uma vila simpática a uma hora de distância de Eskilstuna. Para lá ter fui de comboio e, pela milésima vez, menti ao vendedor a minha idade para obter um desconto no transporte - isto de ter aparelho nos dentes e ar juvenil engana qualquer um. “Que idade tem? 26 anos?” pergunta o vendedor. “Não... tenho 25 ” respondo eu. Vá riem-se. Ele até estava a ser simpático a dizer que tinha 26 e se dissesse que sim, ficaria à mesma com o desconto. No entanto apeteceu-me ficar com essa idade enganosa dos 25 para não haver confusões nas outras alturas. Tenho 28 anos, mas oficialmente para a companhia de SJ (a empresa de combóios sueca) eu tenho 25 anos. Mas juro que só nestas situações é que minto em relação à minha idade! Mas faz bem ao ego quando vêem que eu pareço bastante mais nova. É de aproveitar, pois daqui a 10 anos já não devo parecer ter 25. Ah pois!
Bom, o objectivo deste meu relato era falar de Örebro. Vou deixar então de divagar com a idade que estas coisas fazem-me impressão e é melhor evitá-las.
Örebro é uma cidade pequena, como uma arquitectura predominante do século XIX. Em 1854 houve um grande icêndio e com isso decidiram planear a antiga cidade de mais de 750 anos de forma diferente, tornando-a mais requintada. Os edifícios mais importantes são o castelo, a igreja de S. Nicolau e a câmara municipal. Este último edifício foi mesmo feito à grande e à francesa – tanto que até mesmo o rei na altura criticou pelo facto de ser muito grande para uma cidade de província.


A minha primeira visita foi à igreja de S. Nicolau. Uma visita algo acidental, pois o meu objectivo era visitar o castelo primeiro, mas como sou uma cegueta de primeira, não vi o castelo (um edifício nada pequeno) e vi a igreja. Tenho pouco a dizer sobre o edifício. É uma igreja. :)


Segunda visita foi feita ao castelo. Fiquei um tanto perdida para localizar a entrada principal e o posto de turismo. Lá disseram-me que era possível visitar o castelo gratuitamente ou tinha a opção de ter visita guiada, paga, que era apenas às 13h. Como eram ainda 11h30, não tive muita paciência para esperar e visitei a pequena exposição do castelo, algo escondida, com apenas um pequeno aviso à porta a informar sobre a exposição. Tão escondida que fui a única que tive por lá a tentar perceber o que estava exposto, apenas com a ajuda de um panfleto em inglês. O que não gostei foi o facto de haver umas escadas em caracol que não davam a lado nehum. Uma turista curiosa como eu foi encontrar apenas uma porta com prateleiras de lâmpadas e fios de electricidade.
Basicamente a pequena exposição retrata a história do castelo de Örebro que foi palco de momentos importantes na história da Suécia: a adopção do primeiro Acto Parlamentar em 1617, e a eleição do marechal francês Jean-Baptiste Bernadotte como herdeiro ao trono sueco em 1810. (Eh lá coisas! Ainda estou por descobrir o motivo de terem eleito um marechal de Napoleão a rei da Suécia!)




Depois da visita ao castelo fui em direcção a Wadköping. Este é um centro cultural (estilo mini Skansen) onde foram levados edifícios antigos e construíram uma pequena aldeia. O nome de Wadköping foi criado em honra do escritor, Hjalmar Bergman, que nasceu em Örebro. Neste pequena aldeia, encontram-se lojas de artesanato, venda de livros antigos, exposições de arte e um pequeno teatro ao ar livre. O edifício mais antigo é o chamado Kungsstugan, assim chamado, pois foi residência por duas noites do Duque Karl ( mais tarde Karl IX). No andar de cima encontram-se frescos nas paredes e tectos bem preservados. Encontra-se igualmente a casa que outrora fora do mais famoso escritor de livros de culinária do séc. XVII – Casja Warg. Aqui estão as fotos. Espero que gostem.





Numa coisa fico eu fascinada com as casas à beira rio que encontrei a caminho de Wadköping. Os suecos orgulham-se de ser um povo até bastante modesto, mas a modéstia não consegue esconder o luxo que vi naquelas casa, com relvado, piscina, um pequeno cais para o barquito... tal e qual como vi em Estocolmo. Isso é que é viver! Também quero uma daquelas!

Estocolmo (já vai em quantas vezes?)


Em quantas mesmo? 5ª feira passada foi dia da visita número tal a Estocolmo. Não me canso. E a manhã estava brilhante e gloriosa para uma visita à capital e um passeio pela elegante Strandvägen, de fachadas imponentes e barcos longe de serem modestos. Estava a ver se piscava o olho a um ricaço, mas sem efeito. Só vi turistas, como eu, de mochilas às costas a dirigirem-se possivelmente ao Vasa museet. Mas como já tinha ido lá, o meu primeiro objectivo foi visitar o museu de História (Historiska museet). Por isso virei em sentido oposto, em direcção à Narvavägen e lá estava, após alguns metros, o dito museu. Também é algo que nunca me canso é realmente história e o que, neste momento, me está a interessar é tudo relacionado com os vickings e o que andaram a fazer por estes lados. Depois disso a história deste país não é assim muito fascinante. Tirando o facto de um irmão ter assassinado outro com sopa de ervilhas, de matarem um rei num baile de máscaras ou de nomearem um general francês como rei, sem haver qualquer ligação de sangue, a história sueca é pouco fascinante. E, claro, os vickings.



Passei mais de 2 horas e meia , fechada naquele edifício fascinada com o que uma gravação (gratuíta) me contava sobre o modo de vida daquela gente. O museu divide-se em períodos diferentes: a pré-historia, o período vicking, a Idade Média e o período barroco. Em relação aos dois últimos não me trouxeram assim grandes surpresas já que apresentavam, apenas, relicários e arte religiosa cujo estilo está longe de ser a riqueza do que temos no nosso país. Por isso as duas horas e meia foram mesmo passadas na pré-história e na área dos vickings. Acabei, mesmo, por comprar dois livros sobre a mitologia e as lendas desse período.
Vale a pena, igualmente, a visita ao tesouro na chamada sala dourada, onde se encontra ouro desde a idade de bronze à Idade Média: moedas e jóias, espadas e punhais cunhados a ouro e três gargantilhas de ouro encontradas em três locais diferentes na Suécia, únicas no mundo. Encontra-se também um relicário da santa Isabel da Hungria, que a Suécia tomou em sua posse na Guerra dos Trinta Anos.
Depois da visita ao museu fiz uma bela caminhada, já com o tempo cinzento e algo ventoso, pela marginal, na mesma ilha onde se encontram os museus que já tinha antes visitado: Vasa museet, Nordiska museet e Scansen. Desta vez, fui na direcção de um outro museu, a casa que outrora fora de um príncipe, chamado Eugen, e pela qual fiquei apaixonada. Primeiro, enquanto ia para lá fiquei literalmente de boca aberta, pelas casas centenárias, mesmo à beira de água, com belíssimos jardins e um pequeno cais, para o um barquito.Reparei também que esta é uma zona de embaixadas – encontrei a de Itália e a de Espanha – belíssimos palácios, mas não encontrei a de Portugal. (deve estar num outro sítio numa barraquita modesta)
Depois de uma bela caminhada de cerca de 20 minutos, até ao local fui agradavelmente surpreendida pelo jardim, em torno da casa, que me fez lembrar um pouco o do museu de Rodin quando fui a Paris. E pasmei-me ainda mais, quando vi uma réplica do mesmo Rodin – o pensador. O jardim está repleto de belíssimas esculturas e não me cansei de tirar fotografias. Pena não ter apanhado uma Primavera totalmente florida.







O príncipe Eugen foi pintor e um verdadeiro artista no seu tempo. Foi igualmente um benfeitor onde investiu bastante dinheiro na ajuda de jovens artistas. Muitas das suas obras e de outros artistas que ajudou estão expostas na sua casa. O primeiro andar estava decorado à moda da época (finais do século XIX) e fiquei particularmente fascinada por uma das salas, com janelas amplas viradas para o belo jardim e para a água. Lindo! O segundo andar estava repleto de arte moderna com textéis de variadíssimas formas. Aqui ficam algumas dessas fotografias. Foi pena não ter sido autorizada em tirar fotos do seu interior, principalmente daquela sala...
Como exposição temporária, estavam as imagens que deliciam os fãs do senhor dos Anéis. Quadros bem ao gosto mágico e gótico elaborados por um artista inglês, conhecido pela sua arte em capas de discos de Heavy Meatal. Gostei.

Detive-me mais alguns minutos a tirar fotos do jardim e fui-me embora, em direcção a casa.


Antes disso ainda fui gastar o cheque brinde que me tinham oferecido pela participação na conferência em Estocolmo. Penso que foi um bom investimento. Comprei em inglês um livro sobre os dias não comemorados nos EUA mas que fazem parte da história do país e um livro com a compilação de contos e poemas de Edgar Allan Poe. A bem dizer que os livros que tenho comprado não são de tamanho de bolso e estou a pensar seriamente em enviá-los pelo correio antes de me ir embora. Já ando a formar uma biblioteca de tamanho considerável. A minha maior compra foi a de um livro de contos populares suecos, com ilustrações lindíssimas de um ilustrador dos finais do século XIX, John Bauer, que morreu muito novo. O seu estilo faz-me lembrar um pouco dos ingleses pré-rafaelitas e tem ilustrações adoráveis de trolls grandes e feios, mas ao mesmo tempo tristes e meigos, e de príncipes e princesas elegantes. Mesmo, maravilhoso!


Strängnas

Já que ando a planear a poupar alguns tostões para a minha viagem à Noruega, no final do mês, fiquei durante as férias da Páscoa, por estes lados a passear pela zona. A primeira paragem foi em Strängnas e fui com a companhia da Sahra, uma das professoras de Inglês e Helena, a bibiotecária da escola. Ambas foram excelente companhia, para um dia bem passado nessa vila pitoresca mesmo à beira do lago Mälaren. Os dois edifícios que chamam atenção são, para além da igreja, com sua torre alta, um moinho de vento. Subimos até ao pé do moinho, para contemplar a bela vista do lago. Pelo caminho, encontrámos um velhote simpático que nos disse por piada, que nesse dia tínhamos sorte, pois há mais de 300 anos aquela zona cheirava mesmo muito mal. E quando soube que era portuguesa mostrou-me orgulhosamente o seu boné que dizia Açores, onde recordava com saudades os melhores restaurantes e as melhores iguarias.

Lá continuámos o passeio à beira do lago e a próxima paragem foi na igreja matriz, onde o rei Vasa foi coroado rei, precisamente no dia 6 de Junho de 1523.... data, hoje em dia, celebrada como Dia Nacional da Suécia. Strängnas é sede epicospal desde 1120 e a igreja foi completada em 1280. Curiosamente, encontrámos nas paredes fora da igreja algumas pedras rúnicas que serviram para a construção do edifício e que agora estão a descoberto. Talvez na época, os novos cristãos não queriam essas marcas pagãs. Mas elas permanecem e bastantes na área onde moro e perto de Uppsala.
O interior da igreja é muito parecido com a catedral de Uppsala, mas mais pequena. Vêem-se os mesmos frescos que encontrei em igrejas mais antigas e encontrámos, também, um monumento tumular dedicado ao rei Carl Ix e outro ao seu filho ilegítimo, Gyllenhjelm (pobe criança bastarda que nasceu com esse nome!), que teve um papel fundamental na vila para merecer tamanho monumento. Vimos igualmente representações da sua imagem numa janela de uma casa antiga, que achámos igualmente curioso.
O passeio terminou com um bolo de chocolate e côco e café. Bem bom.



História e reflexões à parte

Há cerca de duas semanas, fui convidada por Karen (lembram-se da professora americana em St. Eskil?) para dar uma aula de história aos seus alunos. O tema era sobre o Imperialismo nos finais do século XIX e a questão em África repartida em bocados pelas super potências da altura (Grã-Bretanha, França e Alemanha). Lá me muni da História Breve de Portugal,Wikipedia e de umas belas imagens que encontrei sobre o tema, e vesti-me no papel de José Hermano Saraiva (mas com a preocupação de não colorir muito e de não fugir à realidade dos factos) e falei sobre Portugal na época da grande questão do mapa-cor-de-rosa. Não andei a fazer grandes dissertações e tentei ser o mais simples possível naquela querela que tivémos e que provocou em grandes revoltas no país, contra “os bretões” e o rei D. Carlos. E com isto Portugal ficou sem rei, sem monarquia e se tornou numa República e lá andámos por uns tempos a cantar “contra os bretões, marchar, marchar!” Mas como não era politicamente correcto para um hino nacional exultar contra os que eram nossos amiguinhos de tantos séculos, os bretões passaram a canhões e lá fizémos a revolução republicana.

Dei alguns saltos na história e fui ter a Salazar e ao fascismo em Portugal. Apenas abordei o facto de Salazar ter trazido alguma estabilidade económica e política no país após as quedas sucessivas de governo, atrás de governo. Mas era uma ditadura. E com isso, a liberdade foi oprimida. Abordei, também, o clima geral que Portugal vive neste momento: descrédito na política, desilusão em relação ao que a revolução de 1974 tinha trazido e o que leva as pessoas votarem no Salazar como o Grande Português. Fiquei chocada, porque nunca pensei que a desilusão levasse, assim, a extremos. Ao eleger Salazar como o Grande Português é votar em alguém que empurrou o país, ao mesmo tempo, à obscuridade, não dando espaço à ambição, limpando “o lixo” para debaixo do tapete e encobrindo a verdade e a miséria que se vivia, mas escondida. Por isso é que as pessoas têm a imagem enganosa de tudo ter sido um mar de rosas, desconhecendo a verdadeira realidade, principalmente daqueles que se opunham ao regime. Dá-me uma certa comixão quando vejo as pessoas a ficarem saudosistas desse passado.
Será que para que o país melhore é preciso ser eleito um ditador? Então o que passa na Suécia ou em qualquer outro pais onde se vive melhor? Não têm, nem nunca tiveram um ditador para que as pessoas vivam bem.
O que falhou na revolução foi o facto dos portugueses não terem sido ensinados sobre o verdadeiro sentido de democracia – que não é nada mais do que a liberdade, pensada no respeito pelo outro.
Posso contar uma história, que aparentemente pode ser um pouco ridícula, mas que de certa forma exprime um pouco o que acabei de dizer – da falta de conhecimento sobre o que é a democracia e a liberdade. Pois então. Este episódio algo caricato, foi contado pela minha mãe, grande contadora de histórias, que me narra sempre cenas saudosas, passadas na aldeia onde cresceu. Ela teve o privilégio de realmente viver a história, embora o momento da revolução tenha sido para ela o dia em que houve a matança do porco, e alguém levemente comentou aos presentes que “algo” em Lisboa estava a acontecer. O porco a ser sacrificado algures numa aldeia no Alto Minho, e os populares em Lisboa a destribuir cravos vermelhos e a cantar a “Grândola Vila Morena”. Fez-se história. Do porco uns enchidos e da Revolução a democracia. Não sei se realmente enchidos e democracia, têm alguma relação, mas lá que dava em grande momento cinematográfico, lá isso dava.
Bom, não é bem essa a história que queria contar. Mas uma outra. A revolução não se fez num dia, mas em vários, e a aldeia perdida no Minho, não ignorou o que se estava a passar no resto do país, até porque não estava a dar mais nada na televisão ou na rádio. Seguindo atentamente a rádio e um dos poucos aparelhos de televisão na aldeia, no café da minha tia, as pessoas ficavam sempre na espectativa de saber o que se passava nos próximos episódios da revolução. Uma palavra que se ouvia constantemente era “liberdade”. Vamos ter mais liberdade! Isto na chegada aos ouvidos dos aldeões, cuja vida na terra foi sempre a mesma, pouco ou nada lhes dizia. Não se sentiam presos, pois a vida deles não era de politiquices, mas sim de tempo de vindimas, de saber das colheitas e da poda. Pois a palavra liberdade aos ouvidos do tonho da aldeia, (Em cada aldeia existe sempre o tonho que passa a vida no café), teve repercussões desastrosas. Ora pois, o que é a liberdade? É não ter limites. É poder fazer o que me apetece! Tenho liberdade de fazer o que quero e ninguém me vai prender por isso!Viva a Liberdade! E ao olhar para uma rapariga bem torneada, pensou e agiu. Esta liberdade que a revolução lhe deu, gerou no impulso de apalpar a rapariga que estava sentada à mesa a beber um pirolito (refrigerante na moda, naquela época). A rapariga, como boa minhota que era, não foi de modas e agarrou na garrafa do pirolito e atingiu a cabeça do tonho. O tonho da aldeia, ficou “empirolitado” e baralhado com o conceito, só se desculpava, dizendo “Liberdade?”. Pois a dita revolução e a liberdade é que foram acusadas do abuso. É esta a questão. Se pensarem bem, não foi só o tonho da aldeia que percebeu mal o conceito de liberdade. Infelizmente os tonhos são muitos, que se aproveitaram da liberdade para não respeitar o outro e o país começou a democracia na desordem, e a mentalidade das pessoas continua desordenada e dificilmente se endireita.

E como este blogue não foi feito para andar a fazer reflexões políticas, vou mas é passar agora para os passeios que fiz nas férias da Páscoa.

O que ando a aprender

As aulas que assisto são bastante interessantes, pois passo a ver como os professores trabalham, cada qual na sua maneira, adaptando às necessidades dos alunos.
Tenho tido também o privilégio de assistir aulas em diferentes programas, em que contacto com diferentes jovens, com necessidades diferentes de apendizagem. Nos programas vocacionais como o da Construção (Building Construction Programme), e o da Mecânica (Vehicle Programme) , os alunos têm mais dificuldades em Inglês e pouca vontade para falar. Lá estou eu para “forçá-los”, pois não têm outra opção. No início ficam um pouco tímidos, sem vontade nenhuma de falarem comigo, mas quando conseguem comunicar alguma coisa, ficam todos contentes e orgulhosos, partilhando o entusiasmo com os outros colegas a descrever a conversa que tiveram comigo. Isso aconteceu com uma turma de futuros mecânicos, rapazes com ar um pouco rude, mas com uma grande vontade em aprender.
E isso penso que é um dos melhores momentos, quando se vêem alunos fracos, a esforçarem-se e a conseguirem comunicar, sem receio de cometer erros.

Ao contrário, em alguns programas mais teóricos, tive a sensação de não fazer muito por lá. Apanhei logo no início , uma turma que era considerada a melhor daquele programa. E de facto era. Tanto que eu e o professor responsável passávamos o tempo na conversa, pois os alunos raramente pediam ajuda. Não por serem tímidos. Longe disso! Eram bons demais para terem dúvidas. Desisti simplesmente de fazer a ronda, a perguntar se precisavam de ajuda. “No, we´re too good!”
Por isso se fosse para trabalhar naquela escola, preferia de longe trabalhar com alunos dos programas vocacionais. Lá, sem dúvida, sentir-me-ia bem mais útil. 
A grande diferença que vejo nas aulas de Inglês nesta escola, de uma forma geral, é o facto dos professores tentaremm gerir as componentes essenciais (ler, ouvir, falar) de uma forma equilibrada. O ensino da gramática é secundário. É necessário, mas não tanto. O importante é o aluno saber comunicar –e para isso, é mais vezes, praticada a oralidade, e os exercícios de escuta. Os próprios exames nacionais que os alunos têm de fazer ( e que agora, a sua grande maioria estão a treinar) cobrem estas componentes. Têm uma parte de escrita, outra de compreensão de vários textos, outra de discussão oral sobre uma determinada situação e mais um teste de compreensão oral. Tudo isto separado, em dias diferentes, tal como os exames administrados pelo British Council.
Por isso, os caros colegas de Rekarne surpreendam-se quando digo que os exames nacionais de Inglês em Portugal, só examinam a parte escrita e nada mais. E então a comunicação oral?
Talvez seja por isso, e isso também na opinião da minha orientadora que teve contacto com algumas escolas portuguesas, que muitos alunos dominam bem a escrita, mas não sabem falar. E isso sei por experiência própria,- era boa aluna a Inglês, pois dominava bem a escrita e a gramática, mas não conseguia falar, pois tinha muito poucas oportunidades na escola de praticar a oralidade. O ensino continua a ser ainda tradicional, pois os professores de língua ainda continuam a bombardear os alunos com gramática e mais gramática. E, depois, vemos alunos a terem aversão a inglês. Podera!
E é por isso que me espanto, por vezes, com a capacidade que muitos alunos suecos têm de falar em Inglês e com a capacidade, fora da escola de encontrar pessoas de várias idades a falar inglês. O que me leva a viver bem neste país, sem necessidade de falar muito sueco. O que é um pouco mal se eu quero sair daqui a falar alguma coisa nessa língua.

Agora tenho adaptado estes ensinamentos nas minhas aulas de Português. Apercebi-me, há pouco tempo, que vim com as manias do ensino de gramática, a bombardear as alunas,coitadinhas com tantos verbos e irregularidades. Pois, a nossa língua é complicada.
Depois vi-as com aquele ar desesperado de, por vezes, não perceberem as mais simples questões. Não sabiam responder. Ora bolas! Há qualquer coisa de errado. O que eu quero é que aprendam a dizer qualquer coisa em Português. Saber manter uma conversa básica. Por isso decidi parar um pouco com a gramática. O meu objectivo no que diz respeito a verbos, por exemplo , é que saibam, ao menos, se exprimir no presente e no passado. E depois, treinar bastante a conversação, mesmo o básico – como se cuprimentam, como pedir alguma coisa num café ou num restaurante, dizerem o que fizeram no fim-de-semana, a sua rotina diária, etc...A sério que é uma terefa mesmo complicada de ensinar a nossa própria língua a estrangeiros. Mas também é aliciante quando se vê um grupo pequeno interessado em aprender a nossa língua.
Tenho feito projectos pequenos com eles, como pequenas exposições cada mês, dedicado aos países que têm o Português como língua oficial. O mês passado foi dedicado a Portugal. E a grande maioria dos alunos e professores, passaram a saber, graças aos belos concursos de quem quer ser milionário, que Portugal apesar de ser um país pequeno, tem mais de 10 milhões de habitantes e que o português é falado por mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo. E todos se espantam com todas estas informações. Este mês é dedicado aos países africanos, com uma exposição mais pequena.
O que tenho feito também é divulgar um pouco a música desses países. Durante o mês de Portugal foi posto a ouvir no bar da escola um cd de compilação de músicas que tinha trazido também para dar a alguns professores. Um deles até me disse que ficou bastante surpreendido com a qualidade da música portuguesa e que o cd se tornou numa referência para ele, pois agora não conseguia ouvir outra coisa. O que me deixou toda orgulhosa, mais uma vez. Tem piada o quanto eu pouco ouvia de música portuguesa antes de vir para a Suécia e o quanto agora ouço e divulgo. Dos artistas que escolhi foram muitos e talvez deveria ter colocado muitos mais, mas queria ao menos mostrar que de música portuguesa não era só o fado. Por isso a compilação passou por vários géneros e artistas: Rui Veloso, Toranja, Boss AC, Da Weasel, Mafalda Veiga, Ala dos Namorados, Dulce Pontes, Madredeus, Naifa, Humanos, Maria João e Mário Laginha, e claro, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Mariza, Camané e muitos mais...
De África só consegui de um aluno meu um cd de compilação de música cabo-verdiana. É melhor do que nada. :)

III Os alunos

Faltava mesmo fazer uma comparação entre os alunos, mas apenas acrescento que os alunos suecos devem ser, certamente, os mais felizardos do mundo. Quando se diz que a educação é gratuíta e para todos, assim o é. Os alunos, ou, neste caso, os pais, não pagam pelo material escolar, pois tudo é fornecido pela escola: os livros, os cadernos, as canetas, os lápis ou lapiseiras ou o material desportivo, as refeições...tudo lhes é oferecido. Isto é o reflexo de um pagamento elevado de impostos, do qual os suecos não se queixam. Pagam imensos impostos, é verdade, mas vêem o quanto o seu dinheiro é bem utilizado. E uma das razões pelo qual a maioria das escolas na Suécia funcionam tão bem, é porque têm dinheiro. E, claro, são bem geridas. Acabam por ser mini-empresas, bem geridas e auto-suficientes.

Como já referi, os alunos têm a liberdade total de se moverem, e de basicamente fazer o que querem na sala de aula sem o professor se preocupar muito se está a trabalhar ou não. Ou melhor- preocupa-se, mas de uma forma mais diplomática, apenas avisa sem perder muito mais tempo em zangar-se com o menos trabalhador. Mais uma vez, o aluno tem que tomar a responsabilidade. Se não trabalha, a sua avaliação irá ser o reflexo justo desse pouco trabalho.

Mas também vejo, que os jovens suecos, são, tal como muitos jovens portugueses, por razões diferentes, um pouco mimados de mais, sem respeito pelas coisas que lhe são oferecidas de mão beijada. Excepto os livros, pois acabam por ter uma penalização se não os devolver ou se os estragar. Muitos não têm motivação e não se interessam pelo que os rodeia, excepto os jogos de computador, música ou os namoricos. E espantem-se! Os professores que querem fazer intercâmbio com escolas fora do país, têm dificuldade em encontrar alunos que queiram viajar, com tudo pago. Apenas gostam de ficar no seu pequeno mundo em Eskilstuna, e têm pouca ambição em conhecer o mundo fora do seu espaço.

II. Diferenças entre um professor na Suécia e em Portugal

Como já disse uma vez, existem algumas diferenças entre algumas escolas. Rekarne é uma escola especial, pois tem recebido mais dinheiro do que as outras escolas na comunidade de Eskistuna. Por isso, é uma escola completamente equipada, com quase o mesmo número de computadores para cada aluno. Em geral os professores são contratados pelas escolas, e os professores têm ordenados diferentes, não em relação ao seu número de anos como professor, mas em relação ao seu trabalho. Esta talvez seja a única queixa que fazem, pois não existe uma efectiva fiscalização do trabalho de um professor para depois ser analisado, e ser atribuído um justo valor em relação ao seu trabalho. Para além disso, encontram-se situações em que um professor recentemente formado, pode ganhar mais que um professor que está há mais anos a trabalhar. Algo que me espantou. Considero que este sistema de ordenados em Portugal levaria a que muitos professores andassem literalmente a conspirar e a arranjar conflitos entre eles, que seria uma beleza.
Os professores que ganham mais são aqueles que vão para escolas nas zonas mais complicadas, em termos sociais no país (Södertalje – perto de Estocolmo é uma delas)

Tirando estes aspectos, aqui está o que eu considero de diferente entre a vida normal de um professor na Suécia e em Portugal.

Um professor Sueco em Rekarne:

1. É contratado directamente pela escola

2. Tem um computador pessoal e gabinete para fazer o seu trabalho.

3. Como já tem tudo feito na escola não precisa de fazer mais nada em casa, a não ser ver televisão e tratar de assuntos domésticos e da escola, pode levar, ocasionalmente, testes para corrigir.

4. Tem a liberdade toda de imprimir e tirar fotocópias.

5. Não se chateia com os alunos, mesmo quando estes não trabalham. Cabe ao aluno ser responsável por aquilo que faz. Se não trabalha, já verá que avaliação vai ter. Por isso, não adianta estar aos berros e e exercer autoridade. O aluno tem a total liberdade de sair da sala para ir à casa de banho sem pedir autorização, de sair do seu lugar, de ouvir música enquanto trabalha, de se sentar em cima da mesa ou de se sentar na cadeira de qualquer maneira, e nas mais varidas posições. Mas isso também se relaciona com a forma como os suecos resolvem os problemas com os outros, evitando-os.

6. É chamado pelo aluno, pelo nome, e não pela designação de professor. A relação entre professor e aluno é mais informal, e o professor é visto como alguém que orienta e não como uma figura autoritária.

7. Raramente o professor é expositivo, apenas coordena as actividades: actividades essas que podem ser efectuadas fora da sala de aula, seguindo um determinado tema de trabalho. Se há um livro para ler, há professores que preferem que o aluno o leia em tempo de aula, fazendo posteriormente exercícios e debates, em grupos pequenos, em relação aos capítulos que leram.

7. O professor tem mais liberdade de escolha e flexibilidade para o planeamento das suas aulas. Preocupa-se mais com o desenvolvimento dos conhecimentos dos alunos e não tanto com o cumprimento de todo o curríulo proposto.

8. Como os livros escolares são gratuítos, o professor tem mais liberdade em escolher materiais para as suas aulas.

9.Cada programa da escola recebe quantias enormes de dinheiro, em que os professores podem se dar ao luxo de fazer “conferêcias” ou “reuniões” en navios da Vicking Lines.

10. É um professor feliz, que tem o seu trabalho normal, numa escola de futuro.

Professor Tuga em qualquer escola do país

1 Tem que passar pelos concursos nacionais para poder ser colocado numa escola pública.

2. Já que é obrigado a trabalhar na escola tem que comprar um portátil para fazer alguma coisa. E é se quer! A escola não paga esses luxos.

3. Vai ainda para casa , planear aulas e fazer testes.

4. Tem que fazer um requerimento especial à sra funcionária uns dias antes das aulas, Ou seja, tem que planear tudo com antecedência, não vá o diabo tecê-las. Em caso de urgência pede de joelhos à sra funcionária e em troca do favor oferece sempre uma lembrança no Natal ou noutras festividades.

5. Passa a maior parte da aula a mandar calar os alunos e a mandar trabalhar. Os alunos ficam ”retidos” na sala de aula, sentados direitinhos, como manda a lei.

6. Existe uma relação de distanciamento entre alunos e professores. Os alunos chamam o professor de “stôr” ou “stôra”. Por vezes não sabem o nome do professor e quando é mencionado é por “stôr da disciplina tal”


7. O professor é, na maioria das vezes, expositivo em que explica a matéria no quadro. O aluno tem um papel pouco activo, a não ser quando tem de efectuar exercícios.

8. O professor sente-se pressionando pelo Programa Nacional e preocupa-se mais em cumprir esse programa, esquecendo, por vezes, as necessidades dos alunos


9. Como qualquer bom pai português tem de dispensar da sua bolsa largos millhares de euros na compra de livros e material escolar, o professor sente-se obrigado em seguir o manual, usando, poucas vezes, materiais originais. Não vá o pai do aluno queixar-se por que não usa mais vezes o manual.

10. Passam horas encarcerados, no final de cada período, para decidir as notas dos alunos. Normalmente é a altura de fazer comentários sarcásticos aos alunos que menos gostam e gozar com o mais totó.

11. É um professor infeliz, onde trabalha numa escola com grandes problemas e quase a cair aos bocados, com trabalho em excesso, com futuros problemas de saúde, e a contar desesperadamente os anos que faltam para a reforma.

Reflexões pessoais sobre a minha experiência em Rekarne: Sobre avaliação

Só falo de passeios, mas pouco tenho falado sobre o meu trabalho na escola. Primeiro as aulas de Português. Com algumas desistências a meio, tenho, neste momento, quatro alunas no primeiro nível e dois alunos, no segundo nível. Um professor, ocasionalmente, aparece nas minhas aulas, para poder ouvir um pouco a língua, pois nasceu e passou a sua infância no Brasil.
Não são muitos alunos, mas são bons e é bom trabalhar com um grupo pequeno. Apenas tenho tido algumas dúvidas em relação a duas alunas, que não são muito aplicadas, mas após uma conversa séria com elas, irei ver, então, se conseguem ser um pouco mais trabalhadoras. É essa umas das diferenças que eu encontro na avaliação feita aos alunos nas escolas na Suécia. A meio do percurso, os alunos falam com os professores sobre a sua avaliação, os pontos fracos e fortes durante o seu percurso na disciplina. E isso é feito de uma forma individual e confidencial, onde se estreitam mais as relações entre os alunos e o professor de cada disciplina. Não existem as chamadas reuniões finais de avaliação com todos os professores de uma turma, em que se decide a nota final do período sem o aluno ter uma voz activa. Nas escolas, em Portugal, apenas o director de turma serve de intermediário entre professores e alunos e pais. Na Suécia, ou pelo menos nesta escola, existem os chamados mentores que têm reuniões com os pais e alunos, individualmente e, não colectivamente e que, claro, se responsabilizam pelo aluno, em relação ao seu comportamento e trabalho nas aulas.


Os meus colegas suecos, ficaram chocados quando lhes disse que a avaliação final dos alunos era, depois de cada período, afixada na escola publicamente. Então, e se um aluno tem más notas? Certamente não gostaria que fossem exibidas e vistas por todos os outros colegas da escola. É algo que deve ser informado pelo professor ao aluno confidencialmente.
Apenas existem reuniões de avaliação entre professores, quando os casos são mais graves, em que o aluno corre o risco de chumbar.

Concordo com este tipo de avaliação, pois é mais justa e democrática, evitando, por vezes, males entendidos entre aluno e professores, na discussão de notas. Ajuda também a estreitar relações entre alunos e professores, sem servir os “mentores” como intermediários exclusivos em todas as discussões.
Para além disso, este sistema sempre pode ajudar os alunos a serem um pouco mais responsáveis, pois passam a ser obrigados a tomar mais consciência em relação ao seu próprio trabalho e avaliação.