terça-feira, abril 10, 2007

O que ando a aprender

As aulas que assisto são bastante interessantes, pois passo a ver como os professores trabalham, cada qual na sua maneira, adaptando às necessidades dos alunos.
Tenho tido também o privilégio de assistir aulas em diferentes programas, em que contacto com diferentes jovens, com necessidades diferentes de apendizagem. Nos programas vocacionais como o da Construção (Building Construction Programme), e o da Mecânica (Vehicle Programme) , os alunos têm mais dificuldades em Inglês e pouca vontade para falar. Lá estou eu para “forçá-los”, pois não têm outra opção. No início ficam um pouco tímidos, sem vontade nenhuma de falarem comigo, mas quando conseguem comunicar alguma coisa, ficam todos contentes e orgulhosos, partilhando o entusiasmo com os outros colegas a descrever a conversa que tiveram comigo. Isso aconteceu com uma turma de futuros mecânicos, rapazes com ar um pouco rude, mas com uma grande vontade em aprender.
E isso penso que é um dos melhores momentos, quando se vêem alunos fracos, a esforçarem-se e a conseguirem comunicar, sem receio de cometer erros.

Ao contrário, em alguns programas mais teóricos, tive a sensação de não fazer muito por lá. Apanhei logo no início , uma turma que era considerada a melhor daquele programa. E de facto era. Tanto que eu e o professor responsável passávamos o tempo na conversa, pois os alunos raramente pediam ajuda. Não por serem tímidos. Longe disso! Eram bons demais para terem dúvidas. Desisti simplesmente de fazer a ronda, a perguntar se precisavam de ajuda. “No, we´re too good!”
Por isso se fosse para trabalhar naquela escola, preferia de longe trabalhar com alunos dos programas vocacionais. Lá, sem dúvida, sentir-me-ia bem mais útil. 
A grande diferença que vejo nas aulas de Inglês nesta escola, de uma forma geral, é o facto dos professores tentaremm gerir as componentes essenciais (ler, ouvir, falar) de uma forma equilibrada. O ensino da gramática é secundário. É necessário, mas não tanto. O importante é o aluno saber comunicar –e para isso, é mais vezes, praticada a oralidade, e os exercícios de escuta. Os próprios exames nacionais que os alunos têm de fazer ( e que agora, a sua grande maioria estão a treinar) cobrem estas componentes. Têm uma parte de escrita, outra de compreensão de vários textos, outra de discussão oral sobre uma determinada situação e mais um teste de compreensão oral. Tudo isto separado, em dias diferentes, tal como os exames administrados pelo British Council.
Por isso, os caros colegas de Rekarne surpreendam-se quando digo que os exames nacionais de Inglês em Portugal, só examinam a parte escrita e nada mais. E então a comunicação oral?
Talvez seja por isso, e isso também na opinião da minha orientadora que teve contacto com algumas escolas portuguesas, que muitos alunos dominam bem a escrita, mas não sabem falar. E isso sei por experiência própria,- era boa aluna a Inglês, pois dominava bem a escrita e a gramática, mas não conseguia falar, pois tinha muito poucas oportunidades na escola de praticar a oralidade. O ensino continua a ser ainda tradicional, pois os professores de língua ainda continuam a bombardear os alunos com gramática e mais gramática. E, depois, vemos alunos a terem aversão a inglês. Podera!
E é por isso que me espanto, por vezes, com a capacidade que muitos alunos suecos têm de falar em Inglês e com a capacidade, fora da escola de encontrar pessoas de várias idades a falar inglês. O que me leva a viver bem neste país, sem necessidade de falar muito sueco. O que é um pouco mal se eu quero sair daqui a falar alguma coisa nessa língua.

Agora tenho adaptado estes ensinamentos nas minhas aulas de Português. Apercebi-me, há pouco tempo, que vim com as manias do ensino de gramática, a bombardear as alunas,coitadinhas com tantos verbos e irregularidades. Pois, a nossa língua é complicada.
Depois vi-as com aquele ar desesperado de, por vezes, não perceberem as mais simples questões. Não sabiam responder. Ora bolas! Há qualquer coisa de errado. O que eu quero é que aprendam a dizer qualquer coisa em Português. Saber manter uma conversa básica. Por isso decidi parar um pouco com a gramática. O meu objectivo no que diz respeito a verbos, por exemplo , é que saibam, ao menos, se exprimir no presente e no passado. E depois, treinar bastante a conversação, mesmo o básico – como se cuprimentam, como pedir alguma coisa num café ou num restaurante, dizerem o que fizeram no fim-de-semana, a sua rotina diária, etc...A sério que é uma terefa mesmo complicada de ensinar a nossa própria língua a estrangeiros. Mas também é aliciante quando se vê um grupo pequeno interessado em aprender a nossa língua.
Tenho feito projectos pequenos com eles, como pequenas exposições cada mês, dedicado aos países que têm o Português como língua oficial. O mês passado foi dedicado a Portugal. E a grande maioria dos alunos e professores, passaram a saber, graças aos belos concursos de quem quer ser milionário, que Portugal apesar de ser um país pequeno, tem mais de 10 milhões de habitantes e que o português é falado por mais de 230 milhões de pessoas em todo o mundo. E todos se espantam com todas estas informações. Este mês é dedicado aos países africanos, com uma exposição mais pequena.
O que tenho feito também é divulgar um pouco a música desses países. Durante o mês de Portugal foi posto a ouvir no bar da escola um cd de compilação de músicas que tinha trazido também para dar a alguns professores. Um deles até me disse que ficou bastante surpreendido com a qualidade da música portuguesa e que o cd se tornou numa referência para ele, pois agora não conseguia ouvir outra coisa. O que me deixou toda orgulhosa, mais uma vez. Tem piada o quanto eu pouco ouvia de música portuguesa antes de vir para a Suécia e o quanto agora ouço e divulgo. Dos artistas que escolhi foram muitos e talvez deveria ter colocado muitos mais, mas queria ao menos mostrar que de música portuguesa não era só o fado. Por isso a compilação passou por vários géneros e artistas: Rui Veloso, Toranja, Boss AC, Da Weasel, Mafalda Veiga, Ala dos Namorados, Dulce Pontes, Madredeus, Naifa, Humanos, Maria João e Mário Laginha, e claro, Amália Rodrigues, Carlos do Carmo, Mariza, Camané e muitos mais...
De África só consegui de um aluno meu um cd de compilação de música cabo-verdiana. É melhor do que nada. :)

1 comentário:

Anónimo disse...

eu tive muita sorte com a professora que me calhou em sorte para me ensinar inglês na escola (já no 7º ano, porque comecei pelo francês): entra pela sala adentro e começa a falar connosco em inglês. pois bem, com desenhos, com gestos e só mesmo em último caso com o português, lá nos foi ensinando inglês. em inglês. durante 3 anos.
o facto de saber uma língua germânica também deve ter ajudado no meu caso, mas o método dela era bom! escutem, falem, repitam.