terça-feira, abril 10, 2007

História e reflexões à parte

Há cerca de duas semanas, fui convidada por Karen (lembram-se da professora americana em St. Eskil?) para dar uma aula de história aos seus alunos. O tema era sobre o Imperialismo nos finais do século XIX e a questão em África repartida em bocados pelas super potências da altura (Grã-Bretanha, França e Alemanha). Lá me muni da História Breve de Portugal,Wikipedia e de umas belas imagens que encontrei sobre o tema, e vesti-me no papel de José Hermano Saraiva (mas com a preocupação de não colorir muito e de não fugir à realidade dos factos) e falei sobre Portugal na época da grande questão do mapa-cor-de-rosa. Não andei a fazer grandes dissertações e tentei ser o mais simples possível naquela querela que tivémos e que provocou em grandes revoltas no país, contra “os bretões” e o rei D. Carlos. E com isto Portugal ficou sem rei, sem monarquia e se tornou numa República e lá andámos por uns tempos a cantar “contra os bretões, marchar, marchar!” Mas como não era politicamente correcto para um hino nacional exultar contra os que eram nossos amiguinhos de tantos séculos, os bretões passaram a canhões e lá fizémos a revolução republicana.

Dei alguns saltos na história e fui ter a Salazar e ao fascismo em Portugal. Apenas abordei o facto de Salazar ter trazido alguma estabilidade económica e política no país após as quedas sucessivas de governo, atrás de governo. Mas era uma ditadura. E com isso, a liberdade foi oprimida. Abordei, também, o clima geral que Portugal vive neste momento: descrédito na política, desilusão em relação ao que a revolução de 1974 tinha trazido e o que leva as pessoas votarem no Salazar como o Grande Português. Fiquei chocada, porque nunca pensei que a desilusão levasse, assim, a extremos. Ao eleger Salazar como o Grande Português é votar em alguém que empurrou o país, ao mesmo tempo, à obscuridade, não dando espaço à ambição, limpando “o lixo” para debaixo do tapete e encobrindo a verdade e a miséria que se vivia, mas escondida. Por isso é que as pessoas têm a imagem enganosa de tudo ter sido um mar de rosas, desconhecendo a verdadeira realidade, principalmente daqueles que se opunham ao regime. Dá-me uma certa comixão quando vejo as pessoas a ficarem saudosistas desse passado.
Será que para que o país melhore é preciso ser eleito um ditador? Então o que passa na Suécia ou em qualquer outro pais onde se vive melhor? Não têm, nem nunca tiveram um ditador para que as pessoas vivam bem.
O que falhou na revolução foi o facto dos portugueses não terem sido ensinados sobre o verdadeiro sentido de democracia – que não é nada mais do que a liberdade, pensada no respeito pelo outro.
Posso contar uma história, que aparentemente pode ser um pouco ridícula, mas que de certa forma exprime um pouco o que acabei de dizer – da falta de conhecimento sobre o que é a democracia e a liberdade. Pois então. Este episódio algo caricato, foi contado pela minha mãe, grande contadora de histórias, que me narra sempre cenas saudosas, passadas na aldeia onde cresceu. Ela teve o privilégio de realmente viver a história, embora o momento da revolução tenha sido para ela o dia em que houve a matança do porco, e alguém levemente comentou aos presentes que “algo” em Lisboa estava a acontecer. O porco a ser sacrificado algures numa aldeia no Alto Minho, e os populares em Lisboa a destribuir cravos vermelhos e a cantar a “Grândola Vila Morena”. Fez-se história. Do porco uns enchidos e da Revolução a democracia. Não sei se realmente enchidos e democracia, têm alguma relação, mas lá que dava em grande momento cinematográfico, lá isso dava.
Bom, não é bem essa a história que queria contar. Mas uma outra. A revolução não se fez num dia, mas em vários, e a aldeia perdida no Minho, não ignorou o que se estava a passar no resto do país, até porque não estava a dar mais nada na televisão ou na rádio. Seguindo atentamente a rádio e um dos poucos aparelhos de televisão na aldeia, no café da minha tia, as pessoas ficavam sempre na espectativa de saber o que se passava nos próximos episódios da revolução. Uma palavra que se ouvia constantemente era “liberdade”. Vamos ter mais liberdade! Isto na chegada aos ouvidos dos aldeões, cuja vida na terra foi sempre a mesma, pouco ou nada lhes dizia. Não se sentiam presos, pois a vida deles não era de politiquices, mas sim de tempo de vindimas, de saber das colheitas e da poda. Pois a palavra liberdade aos ouvidos do tonho da aldeia, (Em cada aldeia existe sempre o tonho que passa a vida no café), teve repercussões desastrosas. Ora pois, o que é a liberdade? É não ter limites. É poder fazer o que me apetece! Tenho liberdade de fazer o que quero e ninguém me vai prender por isso!Viva a Liberdade! E ao olhar para uma rapariga bem torneada, pensou e agiu. Esta liberdade que a revolução lhe deu, gerou no impulso de apalpar a rapariga que estava sentada à mesa a beber um pirolito (refrigerante na moda, naquela época). A rapariga, como boa minhota que era, não foi de modas e agarrou na garrafa do pirolito e atingiu a cabeça do tonho. O tonho da aldeia, ficou “empirolitado” e baralhado com o conceito, só se desculpava, dizendo “Liberdade?”. Pois a dita revolução e a liberdade é que foram acusadas do abuso. É esta a questão. Se pensarem bem, não foi só o tonho da aldeia que percebeu mal o conceito de liberdade. Infelizmente os tonhos são muitos, que se aproveitaram da liberdade para não respeitar o outro e o país começou a democracia na desordem, e a mentalidade das pessoas continua desordenada e dificilmente se endireita.

E como este blogue não foi feito para andar a fazer reflexões políticas, vou mas é passar agora para os passeios que fiz nas férias da Páscoa.

2 comentários:

Anónimo disse...

é a clássica confusão entre liberdade e libertinagem. mais: é a rejeição da outra face da liberdade, que cobra preços elevados, e que é a RESPONSABILIDADE, aquela senhora de quem ninguém gosta.
não se deve levar demasiado a sério o resultado de um concurso de televisão. afinal quantos é que votaram? meia dúzia. e com que intenção? chocar os outros? gozar com a questão? conseguiram. há sempre pessoas que perdem com as mudanças de regime. teriam todos votado neste concurso? se todos os cidadãos tivessem votado de forma honesta não teríamos de certeza este resultado! não desanimes!

Unknown disse...

Sim, o que vale é o facto de não ter sido uma eleicão a sério...mas teria curiosidade se fosse.